A água que,
durante os períodos de estiagem prolongada, irá manter os animais da
população rural do semiárido sem sede e alimentados, começa a brotar dos
primeiros barreiros construídos pelo programa Água para Todos,
coordenado pelo Ministério da Integração Nacional e executado pela
Codevasf em sua área de atuação. Em Pernambuco, primeiro estado a
empreender esta vertente da ação, 30 barreiros já foram concluídos – um
investimento de R$ 2,5 milhões, até agora, para atenuar um dos temidos
efeitos da seca: a morte dos animais que são a fonte de leite e carne
das famílias.
“Um barreiro é uma
parede artificial feita com a intenção de armazenar a água da chuva. É
como uma barragem com proporção reduzida. Essa água armazenada é
basicamente destinada aos animais, mas também pode ser utilizada para
outras finalidades produtivas”, explica o coordenador do Água para Todos
em Pernambuco e engenheiro civil da Codevasf, Leonardo Cruz. Naquele
estado, mais 200 estão previstos para serem implantados nesta etapa do
programa.
Em localidades do
município de Petrolina (720 km de Recife), os oito barreiros que acabam
de ser construídos irão beneficiar mais de 800 pessoas da região.
Apesar
da falta de chuva, o barreiro do sítio Boa Sorte, localizado em Uruás,
localidade de Petrolina, já tem água. Leonardo Cruz explica que essa
água surge das escavações feitas no bojo (bacia hidráulica) do barreiro.
“Quando chove, uma parte da água fica armazenada no subsolo, sobre
rochas impermeáveis e em uma altitude maior que a altitude onde se
localiza o barreiro. Logo, essa água desce por gravidade até o barreiro.
Neste local é feita uma perfuração, uma espécie de cacimbão que chega
até a água da chuva que está no subsolo. Dessa forma, por mais que se
retire água desse cacimbão, ele sempre estará sendo preenchido”,
explica.
Morador de Boa Sorte, o
produtor Raimundo Nonato está feliz com a conclusão da obra. “Esse
barreiro não vai ajudar só a mim, vai ajudar muita gente. Se chover,
nossos problemas estão resolvidos. Essa água que já tem aí serve pra
matar a sede dos animais, são mais de três metros de profundidade”,
comemora, acrescentando: “com água muda tudo. A gente não é ninguém sem
água. Ninguém é”.
Outro dos
barreiros construídos pelo programa em Petrolina está na comunidade de
Pau Ferro, interior do município, e apesar de ainda estar seco, já leva
esperança aos moradores locais, como é o caso do produtor rural Cícero
Rufino. “Estou muito feliz. Primeiro a gente não tinha água. Depois só
tinha água de poço. Agora, com qualquer chuva de 100 milímetros esse
barreiro vai ficar uma beleza”, aposta Rufino.
Ainda
de acordo com o produtor, esse barreiro veio para dar maior conforto a
sua família e vizinhos. “A gente vive de plantar e de criar animais. Sem
água, como os bichinhos vão sobreviver?”. E completa. “Seca tem desde
sempre, o que muda é o que temos hoje. Antes não tinha poço, adutora,
muito menos barreiro. A gente tinha que andar dois, seis e até 10
quilômetros pra conseguir trazer água. Era tempo de luta”, lembra.
Maria
Neuza, mulher de Cícero Rufino, que era quem na maioria das vezes tinha
que fazer essas viagens em busca de água, vibra com a possibilidade de
ter água tão perto. “Além de não ter que andar tanto, quando chover a
gente vai ter tudo armazenado aí (no barreiro). Vamos plantar capim e
alimentar nossos animais”.
Condições técnicas e sociais
Antes
de definir onde os barreiros devem ser construídos, técnicos da
Codevasf visitam as comunidades do interior e verificam quais os
melhores locais para a ação. Condições técnicas, como dados
topográficos, e condições sociais, como o número de beneficiários,
disponibilidade do proprietário da terra em franquear acesso à água aos
moradores no entorno da obra e relatos dos residentes ajudam no
processo. Depois de escolhida a localidade, técnicos trabalharam para
deixar a obra pronta antes do período das chuvas. “A equipe da Codevasf
esteve aqui procurando um lugar para o barreiro, e poucos meses depois
já estava pronto. Foi um dia muito bom. Cada litro de água que aparece
em uma área como essa é uma graça”, elogia Cícero Rufino, da localidade
de Pau Ferro.
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