quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Clima tende a favorecer agricultura, mas há riscos

Se depender do que apontam os mapas meteorológicos, os produtores rurais podem voltar a sonhar com alguma normalidade no campo em 2013. As quebras de safra provocadas pela seca acentuada em diversos países no ano passado não deverão se repetir - ao menos não nos primeiros seis meses do ano. As chuvas devem voltar. E, com elas, uma forte recuperação na oferta global de commodities agrícolas.
 
A expectativa para o período é a que os especialistas do tempo chamam de "padrão neutro": a inexistência de El Niño ou La Niña. Desse modo, as chuvas deverão ocorrer dentro da média esperada para cada estação do ano na maior parte das regiões produtoras dos Estados Unidos, Europa e Brasil. O sinal amarelo continua, no entanto, aceso para a Ucrânia, um grande produtor de trigo, onde a seca poderá se prolongar por mais alguns meses.
 
"É a primeira vez desde 2004 que vemos um padrão neutro tão bem definido e longo como esse", afirma Celso Oliveira, da Somar Meteorologia. "Teremos nos próximos meses chuvas dentro da média, ou até um pouco acima, diferentemente da seca predominante da última safra".
 
Segundo ele, a normalização não representa, porém, uma boa distribuição das precipitações. Isso quer dizer que pode chover em uma semana o volume previsto para a estação inteira, algo implícito na dinâmica de chuvas.
 
No Brasil, onde a estiagem prejudicou a produção de algodão e grãos no Nordeste e de grãos no Paraná e Rio Grande do Sul, levando à redução do PIB do agronegócio no primeiro trimestre, o clima deverá dar alento a partir da segunda quinzena de janeiro aos produtores nordestinos. No Sul choverá dentro da média, que em geral é baixa na região. "O problema do Sul é que o padrão normal de chuvas não é o desejável pelo produtor", diz Oliveira. "Mas não será a seca de 2012".
 
Segundo o engenheiro agrônomo Emerson Nunes, coordenador técnico de grãos da Cocamar, cooperativa no Paraná, o clima seco já afetou a produtividade da soja plantada em setembro, embora a situação tenha melhorado nas últimas semanas em razão da ocorrência de precipitações mais intensas e gerais. "A soja se recuperou bem", disse ele, acrescentando que 25% das lavouras já estão em fase de granação, o período mais crítico, quando não pode faltar umidade. "Se chover bem em janeiro, podemos ainda colher 50 sacas, em média, por hectare. Não será um ano maravilhoso, mas também não será ruim", afirmou.
 
Em compensação, Sudeste e Centro-Oeste, que abrangem boa parte do "cinturão verde" do país, e o Norte podem fugir à regra. Nessas regiões existe a possibilidade de uma alta de até 30% sobre o que normalmente chove entre janeiro e março. Se confirmado, podem ocorrer dois efeitos indesejáveis: deixar a soja, em período de desenvolvimento, "ardida" (tomada por fungos e embolorada, o que afeta o seu valor comercial) e atrapalhar os esforços de manutenção das lavouras, já que a chuva impede a pulverização de defensivos.
 
A hipótese de umidade maior coloca em alerta os produtores de grãos de Mato Grosso. O Estado já tem sofrido com chuvas irregulares nas últimas semanas. "No mesmo município, chegou a chover 200 milímetros em uma semana e nada na outra. Mas ainda é cedo para mexermos na previsão de produtividade", diz Nery Ribas, diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja).
 
A maior preocupação é com a disseminação da ferrugem asiática, a principal doença da soja e que é imensamente favorecida pela umidade. Na safra 2012/13, o Consórcio Nacional Anti-Ferrugem já identificou 28 casos no país, nove deles em Mato Grosso. "O fungo já está na área, presente no ar, e pode ser facilmente levado pelo vento", diz Ribas. Segundo ele, se as chuvas forem sequenciais, pode haver dificuldade em fazer o controle com fungicidas para combater a praga. "As precipitações atrasam a aplicação, e se passarem dois ou três dias, pode ser o suficiente para que a lavoura seja tomada pela ferrugem".
 
A possível ocorrência de mais chuvas em um período de "padrão neutro" deve-se, no caso brasileiro, ao aquecimento das águas do Oceano Atlântico durante o verão e, portanto, maior evaporação - com a ausência de La Niña e El Niño (o esfriamento e aquecimento do Pacífico, respectivamente), os olhares dos meteorologistas voltam-se automaticamente para os fatores locais.
 
"Uma das características do verão é que as frentes frias se tornam mais vagarosas. A partir do início do ano elas podem ficar até 15 dias paradas sobre o mesmo lugar", explica Oliveira, da Somar. "E quando a evaporação mais intensa do Atlântico se junta a essas frentes frias, há mais chuvas". São os períodos conhecidos como "invernadas" - caracterizados por temperaturas mais baixas, dias cinzentos e mais chuvas.
 
Nos Estados Unidos, onde a maior seca em 50 anos reduziu a produção de milho em mais de 100 milhões de toneladas e na Europa, o plantio do primeiro semestre deverá ser beneficiado por chuvas dentro da média para a primavera, que se estende de abril a junho no Hemisfério Norte. No Meio-Oeste americano, a expectativa é de chuvas na média ou até 20% acima. Contudo, a porção sul dos EUA pode ser afetada por baixa precipitação, prejudicando as lavouras de algodão. Para essa região, que envolve Alabama e Texas, deve chover 20% menos nos primeiros meses do ano.
 

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